por Jamir Calili
No último dia 4 de setembro, participei de uma assembleia do Diretório Acadêmico Vinícius Vieira, da Medicina da UFJF, Campus GV. Fui como convidado externo ao movimento estudantil, disposto a ouvir, e saí de lá profundamente impactado pela maturidade, pelo engajamento e pelo senso de responsabilidade dos nossos estudantes. Em um cenário em que tantas vezes se acusa a juventude de apatia, encontrei jovens que não somente se preocupam com o futuro de seu curso, mas também com o futuro da cidade e da saúde pública regional.
A pauta era clara: discutir os rumos da infraestrutura do campus, especialmente diante do anúncio de recursos do PAC destinados a Valadares. O governo federal já havia garantido cerca de R$ 80 milhões, sendo parte para concluir as obras do bairro Santa Rita e do Vila Bretas e outra parte para atender às demandas da área da saúde, com destaque para Medicina e Educação Física (cerca de R$ 40 a 50 milhões). Até aí, uma boa notícia. Mas a proposta encaminhada pela Reitoria — de utilizar os recursos para comprar o prédio do Departamento de Ciências Básicas da Vida, atualmente alugado — acendeu o alerta entre os estudantes.
E por que essa preocupação é legítima? Porque a compra desse imóvel, ainda que resolva um problema de execução orçamentária da Universidade, não atende às reais necessidades pedagógicas dos cursos. O prédio do bairro São Pedro não comporta adequadamente nem Medicina, nem Educação Física. Faço aqui um parêntese: o imóvel é útil e essencial, mas não suficiente. Na prática, a compra liberaria a Reitoria de uma despesa de aluguel e geraria folga orçamentária que não seria necessariamente revertida para o Campus GV, mas diluída entre todas as unidades da UFJF. Em outras palavras, recursos carimbados para cá poderiam, na prática, beneficiar Juiz de Fora. Eis a incongruência denunciada pelos alunos.
Essa mobilização não é corporativista, nem restrita a uma categoria. Ao contrário, ela aponta para questões que interessam a toda comunidade. O curso de Medicina demanda laboratórios adequados e um hospital universitário. O dinheiro do PAC precisa ampliar a estrutura do curso e não ser usado para reduzir responsabilidades que são da UFJF. Atrelado a isso, os estudantes viram a oportunidade de, também, reivindicar o futuro Hospital Regional, prometido pelo Governo de Minas, para fins de Hospital Universitário a ser gerido pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Esta demanda não é somente uma demanda estudantil: é uma agenda de interesse público. Um hospital universitário em Governador Valadares significaria atendimento de qualidade, formação de profissionais de excelência e fortalecimento de nossa condição de polo regional em saúde e educação. O que os estudantes solicitam vai além de pensar somente em seus cursos, mas discutem um impacto sistêmico para a cidade, para os municípios vizinhos e para milhares de cidadãos que buscam atendimento. Uma alternativa, inclusive, que eu destacaria, como contribuição pessoal, é com a implementação do Hospital Regional, pelo Estado de Minas Gerais, se não seria o caso de transformamos o municipal em Universitário, com ganhos para todos os envolvidos.
Esta semana, os estudantes foram às ruas, organizaram uma manifestação com mais de duzentos participantes, elaboraram pautas consistentes e mostraram que sabem articular um discurso para além dos próprios interesses. É um exemplo pedagógico: aprendem Medicina, mas ensinam cidadania. Demonstram capacidade de propor soluções e dialogar com a sociedade. É um sopro de esperança em tempos de ceticismo político.
Mas não podemos deixar que eles lutem sozinhos. É hora de a cidade inteira se mobilizar. A Câmara Municipal, a Prefeitura, os deputados estaduais e federais, a OAB, a Associação Comercial, os sindicatos, as entidades de classe: todos precisam se somar a essa pauta. Afinal, estamos falando de investimentos que ultrapassam os R$ 40 milhões. Estamos falando de decidir se Governador Valadares terá uma estrutura capaz de projetar seu futuro ou se perderá, mais uma vez, a oportunidade de consolidar-se como polo universitário e de saúde.
É uma decisão que afeta a economia, a saúde pública, a educação e o prestígio da cidade. Não podemos ignorar a possibilidade de mais uma centralização em Juiz de Fora, em detrimento do desenvolvimento do nosso campus. Por isso, deixo aqui um convite: que cada leitor compartilhe esta reflexão com autoridades, com amigos, com lideranças locais. Que façamos ecoar a voz dos nossos estudantes. Que possamos, juntos, pressionar a Reitoria, o Governo do Estado e o Governo Federal para priorizarem a expansão e a consolidação do Campus GV. O futuro da UFJF se alinha com o futuro de Governador Valadares. Aproveitemos que os discentes estão mobilizados, e transformemos essa mobilização em um movimento coletivo.
Jamir Calili, professor da UFJF, vereador, membro da Academia Valadarense de Letras, na cadeira de Machado de Assis.