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Audiência pública em Valadares debate prevenção e pósvenção do suicídio com participação de profissionais e enlutados

A reunião foi solicitada pelo Grupo de Apoio a Enlutados por Suicídio (GAES/GV)
Durante a audiência, foram apresentados dados preocupantes sobre o suicídio no Brasil e na cidade de Governador Valadares. Foto: Divulgação Câmara de GV
quinta-feira, 2 outubro, 2025

Na tarde desta terça-feira (30), a Câmara Municipal de Governador Valadares realizou audiência pública proposta pela vereadora Fernanda Braz, que teve como tema a prevenção e pósvenção do suicídio. A reunião foi solicitada pelo Grupo de Apoio a Enlutados por Suicídio (GAES/GV), que, desde 2023, tem atuado no município com profissionais voluntários.

A vereadora Fernanda Braz destacou a urgência do debate e a relevância de transformar a dor da perda em ação concreta, propondo o fortalecimento de políticas públicas de saúde mental.

"Estamos tratando de um tema sensível e urgente, com o objetivo de transformar dor em ação, fortalecer políticas públicas e promover uma cidade que cuida da saúde mental de seus cidadãos", afirmou.

A audiência contou com a participação de diversos profissionais da saúde, como o psiquiatra Pedro Colen, que abordou a importância da definição e execução de políticas públicas efetivas para a prevenção e pósvenção do suicídio. Colen ressaltou a necessidade de estratégias de saúde pública para reduzir os índices de suicídios, destacando que, enquanto a taxa global de suicídios é uma preocupação, muitos países já implementaram medidas eficazes que resultaram em quedas nas estatísticas.

“Desde que a humanidade existe, o suicídio tem sido um tema difícil de discutir, cercado por questões culturais e históricas. Porém, é crucial que tratemos o suicídio como um problema de saúde pública, com políticas focadas na prevenção e apoio aos enlutados”, reforçou o psiquiatra.

 Cenário 

Durante a audiência, foram apresentados dados preocupantes sobre o suicídio no Brasil e na cidade de Governador Valadares. Segundo Pedro Colen, a taxa de suicídios no Brasil gira em torno de 8 a 9 por 100 mil habitantes, com um impacto ainda mais alto entre grupos específicos, como os militares, onde a taxa pode atingir 17%. No cenário local, a cidade tem cerca de 22 mortes por suicídio anualmente, o que representa um problema de saúde pública que afeta profundamente a sociedade.

Lorraine Pereira Chagas, referência técnica em violência da Gerência de Epidemiologia de Governador Valadares, apresentou números detalhados sobre tentativas de suicídio e óbitos relacionados no município entre 2015 e 2024. O aumento de casos registrados em 2023 e a previsão de um número elevado de casos para 2024 - os dados ainda não foram finalizados - indicam uma necessidade urgente de políticas públicas e programas de conscientização.

Impacto familiar e o luto por suicídio

A psicóloga Marcela Rezende Sampaio, moderadora do GAES/GV, abordou a complexidade do luto por suicídio, enfatizando que este tipo de perda gera uma dor intensificada por sentimentos de culpa e incompreensão social. Ela afirmou que o suicídio não deve ser visto como uma escolha, mas como um reflexo de um adoecimento mental que impede a pessoa de enxergar outras alternativas.

Vários enlutados compartilharam suas histórias, entre eles, Luciana Monteiro, mãe de Guilherme, que se suicidou aos 25 anos, Amarildo Costa, que perdeu sua esposa após 28 anos de casamento e Maria Ignês, cuja filha tirou a vida há 6 anos. Os três destacaram a importância do apoio do GAES e de grupos semelhantes para lidar com o sofrimento e encontrar suporte.

Propostas 

Ao final da audiência, a vereadora Fernanda Braz apresentou propostas de requerimentos para enfrentar o problema do suicídio em Valadares. Entre as sugestões, estão a realização de um seminário municipal sobre prevenção e pósvenção do suicídio no primeiro semestre de 2026 - sugerido pelo GAES/GV -, a instituição de protocolos de atendimento às famílias enlutadas e a ampliação da equipe multiprofissional da saúde mental no município, com destaque para psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais.

Além disso, foi sugerido o mapeamento de pontos críticos, como pontes e viadutos, que historicamente registram tentativas de suicídio na cidade, com o intuito de criar estratégias de prevenção mais eficazes.

Desafios

Ao longo da discussão, foi ressaltado que, apesar de avanços como a criação da Política Nacional de Prevenção ao Suicídio e a parceria com o CVV, a rede de atendimento pública no Brasil ainda é disfuncional e precisa ser melhor articulada. A falta de capacitação continuada dos profissionais da saúde e a escassez de ações integradas entre as diversas esferas do sistema público de saúde dificultam o atendimento efetivo às vítimas de tentativas de suicídio.

A audiência foi um momento de conscientização e de apelo para que o poder público adote medidas mais concretas e eficazes para enfrentar a crise do suicídio. Como destacou um dos participantes: “O suicídio é uma morte evitável, e a sociedade precisa se unir para combater essa realidade.”

Ao final, Fernanda Braz agradeceu a todos os enlutados pela coragem de compartilhar suas histórias e reforçou o compromisso de levar adiante a luta por mais políticas públicas voltadas à prevenção do suicídio. Ela concluiu a audiência com a promessa de que as propostas serão apresentadas na Câmara Municipal e encaminhadas ao Executivo.

Foto: Divulgação Câmara de GV

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