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Carla Aguiar Menezes: Uma força por trás da Associação Santa Luzia

Edmundo Alvarenga entrevistou Carla Aguiar Menezes, uma mulher que atua na filantropia em Governador Valadares, dedicando grande parte de seu tempo à Associação Santa Luzia
Edmundo Alvarenga durante entrevista com Carla Aguiar. Foto: Divulgação EA
domingo, 12 outubro, 2025

Edmundo: Carla, é um prazer enorme conversar com você. Pra começar, conte um pouco sobre quem é a Carla Aguiar Menezes.

Carla: Eu que agradeço, Edmundo. Tenho 67 anos, sou natural de Governador Valadares, filha de João Sérgio da Cunha Menezes e Nely Aguiar Menezes. Fui casada por 26 anos, uma união que me presenteou com dois filhos maravilhosos - Leonardo e Mariana - e, deles, vieram meus três maiores tesouros: meus netos, João, Maria Luísa e Júlia.

Edmundo: E como começou a sua história com a Associação Santa Luzia?

Carla: Essa história começou em 1992, um ano marcante na minha vida. Em fevereiro, sofri um acidente grave que me deixou inativa por um bom tempo. Depois de meses de recuperação, fui a São Paulo fazer uma cirurgia de enxerto ósseo. A partir dali, comecei a retomar a vida - ainda com mobilidade reduzida, mas com muita vontade de agir e viver. Como eu havia deixado o trabalho, entrei numa fase difícil, de desânimo e tristeza. Foi quando um amigo muito querido, o Luiz Alves Lopes, o Luizinho, me convidou para conhecer a Associação Santa Luzia. Ele me disse que estava reunindo um grupo de mulheres e brincou dizendo que ‘a casa estava precisando de sangue feminino’. Aceitei o convite na hora.

Edmundo: E como foi esse primeiro contato com a instituição?

Carla: Na primeira reunião, éramos cerca de dez mulheres conhecendo a casa. Na segunda, restamos apenas eu e mais uma - as outras não resistiram ao impacto da realidade que encontramos. Não foi fácil ver as condições da instituição e as necessidades dos moradores. Mas, à medida que fui conhecendo as pessoas - crianças, deficientes visuais e físicos, idosos -algo mudou dentro de mim. Doeu, sim, mas trouxe uma alegria imensa. Percebi que meus problemas eram pequenos diante da força e da coragem que encontrei ali.

Edmundo: E de lá pra cá, muita coisa mudou, não é?

Carla: Mudou demais! Eu, que sempre fui alto astral e festeira, entrei pra valer nessa causa, junto de uma equipe maravilhosa. Com a diretoria da época, criamos várias frentes de trabalho e enfrentamos uma jornada árdua: saímos de barracões simples, que abrigavam cerca de vinte moradores, até alcançarmos o que temos hoje - uma grande casa, que já chegou a acolher cem assistidos, entre crianças, jovens, adultos e idosos com diferentes anomalias e necessidades especiais. Nunca nos faltou vontade, força, perseverança e fé. Sempre tivemos o apoio generoso da sociedade e realizamos inúmeros eventos e campanhas para manter a casa e garantir o bem-estar dos nossos moradores.

Edmundo: Você fala com muita emoção. O que a Associação representa pra você hoje?

Carla: Representa um recomeço. A Santa Luzia não apenas me deu uma missão - ela me devolveu a alegria de seguir a vida em frente. Encontrei ali o verdadeiro sentido de servir, de recomeçar e de transformar dor em força. Cada sorriso, cada abraço, cada história vivida dentro daquela casa faz parte de quem eu sou. Tenho uma gratidão enorme. Acredito, de coração, que amar e ajudar o próximo é o caminho mais bonito que alguém pode escolher trilhar.

Edmundo: E pra quem quiser ajudar, como pode fazer isso?

Carla: Existem muitas formas. Quem quiser contribuir financeiramente pode pedir o carnê mensal ou fazer um PIX para doar@santaluziavaladares.org. Também pode levar doações diretamente à Associação, na Rua Israel Pinheiro, 77, bairro São Pedro, ou ligar no [33] 3225-1420 que a equipe vai buscar.

Edmundo: E o que mais a instituição precisa?

Carla: Nossas maiores necessidades são leite, fraldas geriátricas, toalhas de banho, produtos de higiene pessoal, material de limpeza e alimentos. Temos também um bazar, que funciona todos os dias na Avenida Rio Doce, onde aceitamos doações de roupas, calçados, bijuterias e móveis.

Edmundo: Imagino que o trabalho voluntário seja fundamental.

Carla: Com certeza. O voluntariado é essencial! Realizamos dois ou três bingos por ano e precisamos muito de pessoas pra ajudar nas barracas e na venda de cartelas. Tem também a barraca da Trezena de Santo Antônio, em junho - são 13 dias seguidos, e precisamos de pelo menos oito pessoas por dia. Antes, tínhamos a famosa ‘barraca do pastel’, mas, por demandar muito esforço, ficou inviável, já que os voluntários antigos estão há mais de 25 anos conosco e muitos já têm idade avançada.

Edmundo: Profissionais liberais também podem colaborar, certo?

Carla: Sim, e muito! Médicos, dentistas, psicólogos, advogados, engenheiros - todos são bem-vindos. Temos enfermaria, gabinete dentário, e aceitamos doações de remédios, inclusive de donos de farmácia. Aliás, adoramos novas ideias. Gostei, por exemplo, da sua sugestão, Edmundo, de usar um projetor pra passar filmes - é um jeito bonito de levar lazer e dignidade para os nossos assistidos. Queremos que eles vivam o que nós, aqui fora, vivemos.

Edmundo: Que mensagem você deixaria pra quem está nos lendo agora?

Carla: Que não espere o momento perfeito pra fazer o bem. O bem acontece no instante em que você decide agir. A Santa Luzia é feita de amor, solidariedade e esperança - valores que sustentam tudo o que somos. Então, nos ajude a ajudar: doe, seja voluntário, participe. Cada gesto faz diferença.

Edmundo: Carla, de minha parte, fica o meu sincero agradecimento, não apenas pela entrevista, mas, sobretudo, pela sua trajetória; uma mulher que fez da solidariedade um modo de vida!

Para fechar, vale lembrar: Carla está na Associação Santa Luzia desde 1992 - ou seja, são 33 anos de dedicação, amor e serviço. Três décadas e um pouco mais em que ela vem transformando a vida de muita gente, levando esperança, cuidado e dignidade a quem mais precisa.

Acho até que, ‘como forma de incentivo [a outras pessoas] e reconhecimento’, algum vereador poderia oferecer à Carla uma homenagem, uma menção honrosa!

Parabéns, Carla, pela sua atitude! Temos muito orgulho de você!

Não é à toa que, na minha imaginação de artista, você sempre me lembrou um anjinho barroco, com seus cabelinhos loiros encaracolados.

Isso mesmo - você sempre foi uma ‘anja’, dessas que iluminam o mundo com gestos simples e um coração enorme!

-Edmundo Alvarenga

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