por Edmundo Alvarenga
Nem só de prefeitos, professores ou políticos se faz uma cidade. Há também os que constroem em silêncio, sem diploma, sem cargo público, mas com coragem e amor. Alguém que desde criança se destacava na escola, sempre a melhor aluna, com gosto pela leitura, facilidade para decorar matérias e talento para ensinar aos colegas conjugação de verbos, história do Brasil e operações matemáticas.
Casou-se jovem e começou a vida na roça com seu marido, cuidando de uma pequena propriedade. Era a época da lamparina, sem luz elétrica, sem água encanada, sem qualquer conforto moderno. Apesar das dificuldades, enfrentou a rotina com coragem.
O tempo passou, vieram para Valadares. Com o tempo a família aumentou, cuidava de 9 de nove filhos, cozinhava no fogão a lenha, lavava roupas no tanque e passava com ferro a brasa, raramente contando com alguma ajuda de empregadas domésticas.
Religiosa fervorosa, católica praticante, sempre colocou a fé em primeiro lugar. Toda atividade familiar passava antes pela Missa, desde passeios até cinema. Participava de procissões e estabeleceu o hábito de reunir os filhos para rezar toda noite. Ela conseguiu realizar a leitura da Bíblia com todos os filhos, do Gênesis ao Apocalipse, trecho por trecho, noite após noite, durante anos. Até hoje, aos 95 anos, mantém sua rotina de oração diária, sempre às 18h, o Santo Rosário.
Autêntica, sincera e transparente, sempre fala o que pensa, defende a verdade e jamais esconde os fatos. Presente e amorosa, também foi austera e disciplinadora - mas, apesar disso, todos os filhos a chamam carinhosamente de Teté, pedem sua bênção ao chegar e saem da casa dela com abraço, carinho e beijo.
Além de sua vida familiar, guardou na memória inúmeros poemas de autores brasileiros, com predileção especial pelos poetas da Inconfidência Mineira: Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa, Alvarenga Peixoto e Bárbara Heliodora. Conhece, ainda, em detalhes a história do Brasil, como a linhagem de Dom João VI, Dom Pedro I, Dom Pedro II, o Dia do Fico, a Independência e tantos outros acontecimentos.
Sempre teve muito gosto pela leitura nacional e internacional. É também uma apreciadora da sétima arte. Aliás, eu aprendi a gostar de cinema e de leitura por causa dela.
Entre as histórias de autores internacionais, suas prediletas são: O Morro dos Ventos Uivantes [Emily Brontë], Rebecca [Daphne du Maurier], E o Vento Levou [Margaret Mitchell], O Assassinato no Expresso do Oriente [Agatha Christie].
Também aprecia obras do Sidney Sheldon, como O Reverso da Medalha e outras histórias marcantes de sua produção.
Vinda de uma família de 12 irmãos, é hoje a única viva, posicionando-se aproximadamente no meio entre o primeiro e o último. É prima do poeta Carlos Drummond de Andrade.
Essa mulher é minha mãe, Maria Terezinha Alvarenga Vieira, carinhosamente Teté. Viveu um casamento de 69 anos ao lado do meu pai, Ely Braga Vieira. Não construiu prédios, escolas ou obras públicas, mas construiu algo muito mais duradouro: uma família unida, instruída e cheia de história, e uma vida que é, por si só, uma verdadeira contribuição para a cidade que ela ama.
Obrigado por tudo, Teté!
- Seu filho, Edmundo Alvarenga





