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Barulho dos Infernos

Leia a coluna desta semana de Jamir Calili
Bicicleta motorizada elétrica. Foto: Reprodução da Internet
domingo, 24 agosto, 2025

por Jamir Calili

Confesso que o título é um tanto quanto provocativo e pode soar mal no ambiente familiar. Mas é deste ambiente que escrevo: do sofá de casa, onde muitas famílias também tentam descansar enquanto um ronco metálico corta a noite e as madrugadas. O barulho dos motores adaptados em bicicletas, ora acelerando, ora estourando em descargas “abertas”, não é só incômodo. Ele desorganiza rotinas, agride idosos, crianças no espectro do autismo, trabalhadores que acordam cedo, convalescentes em leitos dos hospitais entre outros. Essa é a face interior dessas bicicletas motorizadas. Há ainda a parte dos acidentes e mortes que vira e mexe são notícias nos jornais. É uma diversão totalmente não ecológica e gera muito mais transtorno do que benefícios. Este é um problema que precisa ser abordado. Não é ser contra as culturas de rua ou ser contra a tecnologia ou o deslocamento barato; é sobre respeitar a lei e o direito ao silêncio.

Não tem uma pessoa com quem eu converse que está satisfeito com essa situação. Foi por isso que resolvi liderar um movimento contra essas bicicletas motorizadas e para organizar melhor o trânsito de nossa cidade. Após várias conversas, tivemos, na sexta-feira, 15 de agosto, sob o comando da Polícia Militar, em Governador Valadares, a operação “Barulho dos Infernos”. Uma operação que foi coordenada por um grupo interinstitucional do qual eu faço parte, envolvendo Polícia Militar, Civil, Departamento de Trânsito da Prefeitura Municipal de Governador Valadares e Câmara dos Vereadores. Foram fiscalizados veículos, feitas abordagens e apreendidos ciclomotores artesanais irregulares. A ideia é simples: operações surpresa e regulares para tirar de circulação quem coloca a vida alheia em risco e perturba o sossego, enquanto o poder público orienta quem quer trabalhar e estudar com segurança. Eu apoio e, do lado do Município, empurro a agenda de prevenção, conscientização e repressão ao uso irregular. É firmeza com regra e respeito com gente.

Eu sei que demos o primeiro passo e ainda há muitos passos para serem dados. Muitas pessoas falam comigo: mas ainda há barulho e há outros problemas que precisam ser resolvidos. Eu sei, minha gente querida. Mas precisamos dar os passos necessários e aos poucos vamos resolvendo as questões essenciais. O que está em jogo neste primeiro momento? Ruído e alteração irregular: conduzir veículo com “descarga livre” ou silenciador defeituoso é infração grave, com multa e retenção do veículo. Não é “estilo”; é risco e desrespeito. Em um segundo momento vamos exigir documentação e habilitação: há regras para o tráfego desses veículos e há inclusive novas exigências que serão cobradas a partir de 1º de janeiro de 2026 de veículos que hoje são de comercialização livre sem registros. E em um terceiro, que acredito que seja uma ação contínua, a circulação correta: cada tipo de veículo tem regra própria de onde pode e como deve trafegar.

Para a cidade entender (e colaborar), um guia rápido: a) bicicleta elétrica (com pedal assistido): é tratada como bicicleta. Pode ter até 1000 W e assistência até 32 km/h, sem acelerador. Não precisa de placa nem licenciamento. Circula em ciclovias, ciclofaixas e vias definidas pela autoridade de trânsito local. Capacete é recomendável, especialmente para jovens; respeito às regras é obrigatório.; b) equipamento

autopropelido (patinete, monociclo, hoverboard): até 1000 W e 32 km/h. Pode ser autorizado em áreas de pedestres a até 6 km/h, em ciclovias/ciclofaixas conforme regulamentação municipal e em vias com limite de até 40 km/h. Deve ter campainha e sinalização noturna. Educação no trânsito é imprescindível; c) Ciclomotor (as “cinquentinhas” e bicicletas com motor/“kit”): até 50 cm³ ou até 4 kW e velocidade de fábrica até 50 km/h. A partir de 1º de janeiro de 2026, será exigido registro, placa, licenciamento e uso de capacete; para conduzir, só com ACC ou CNH A. Não pode rodar em vias de trânsito rápido sem acostamento. É aqui que estão a maioria das irregularidades que vemos na rua.

• “Bicicletas motorizadas artesanais”: se têm acelerador, potência/velocidade acima dos limites, ou motor a combustão, equiparam-se a ciclomotores. Ou regulariza, ou não circula – inclusive com prazo nacional para inclusão no RENAVAM dos modelos antigos sem CAT.

E quem fiscaliza o quê? O Município, integrado ao Sistema Nacional de Trânsito, pode regulamentar circulação local (ciclovias, ciclofaixas, velocidades, sinalização) e fiscalizar um conjunto de infrações; a Polícia Militar e os órgãos estaduais de trânsito cuidam do registro/licenciamento, abordagens e apoio à repressão quando há crime ou perigo. A regra é cooperar, não disputar protagonismo: cada um cumpre seu papel para proteger a vida e o sossego.

Pais e escolas: menores não podem conduzir ciclomotores. Não é “brinquedo”, é veículo. Nosso dever comum é orientar e impedir que adolescentes pilotem máquinas sem habilitação. Nas campanhas que estamos preparando, vamos falar de segurança ativa (capacete, iluminação, manutenção) e de convivência (respeito aos pedestres, às faixas, às calçadas e ao silêncio).

Ao trabalhador que usa sua bike elétrica ou ciclomotor regularizado para entregar comida, levar a filha à escola ou encurtar o caminho do emprego, minha mensagem é clara: vocês são parte da solução. Vamos ampliar ciclovias, organizar pontos de apoio e dar previsibilidade. O que não dá é confundir direito de ir e vir com licença para romper o sossego, adulterar escapamentos, trafegar na contramão e dirigir sem habilitação. Dirigir é um privilégio social condicionado a regras, nunca um salvo-conduto individual.

“Barulho dos Infernos” não é um slogan, é um compromisso: reprimir o que é irregular; educar para o uso correto; prevenir acidentes. Com operações firmes, informação clara e respeito mútuo, nossa cidade pode ser, ao mesmo tempo, mais móvel e mais silenciosa. É isso que a população quer – e é por isso que eu sigo trabalhando.

Jamir Calili, professor da UFJF, vereador, membro da Academia Valadarense de Letras, na cadeira de Machado de Assis.

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