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Dom de pensar: entre o silêncio e o sentido

Leia a coluna desta semana de Gilmar de Oliveira
Dom de pensar. Foto: Reprodução da Internet
domingo, 29 junho, 2025

por Gilmar de Oliveira

Vivemos dias de excesso de informação e falta de silêncio. Pensar, hoje, parece um artigo de luxo. Nesse cenário inquieto, ecoa uma sabedoria antiga: a do salmista, que já no primeiro salmo recorda que mais do que feliz é quem não apenas lê, mas medita - dia e noite - sobre aquilo que importa.

Meditar não é repetir palavras vazias. É mergulhar fundo, dialogar em silêncio entre saber e ser.

Às vezes, tudo nos empurra para a superfície, para a pressa, para o ruído. Mas, quando desaceleramos, percebemos o quanto pensar com profundidade é um ato de resistência - e, acima de tudo, de renovação. No silêncio, o pensamento bruto se transforma, como pedra lapidada pelo tempo e pela introspecção, até brilhar como diamante: revelando valor, forma e propósito.

Tanto nas escrituras sagradas quanto nas vozes serenas do Oriente, ouvimos o mesmo chamado: desacelere. Perceba.

Viva com intenção. O livro As Coisas que Você Só Vê Quando Desacelera, do monge Haemin Sunim, ensina que a pressa e o excesso de estímulos nos cegam para o essencial. Quando desaceleramos, vemos nuances, sentimos com mais verdade, percebemos o sagrado no ordinário.

Meditar - dia e noite - é desacelerar por dentro. Permitir que o pensamento amadureça. Que a sabedoria floresça. Salomão já dizia: "Para tudo há uma estação, e um tempo para cada propósito debaixo do céu." Em um mundo que valoriza a urgência e o acúmulo, essa perspectiva nos convida a viver o tempo com gratidão e atenção. Até o silêncio tem seu valor. A vida se revela mais rica quando vivida com olhos despertos e coração presente.

Aqui, lembro da parábola dos talentos. Cada um de nós recebe talentos - dons que, se cultivados, multiplicam-se e transformam nossa existência e a dos outros. O dom de pensar é um desses talentos: uma dádiva distribuída a todos, mas que exige coragem e intenção para ser desenvolvida.

Não basta apenas receber; é preciso investir, arriscar, ousar pensar além do óbvio.

Enterrar o pensamento, como o servo que escondeu seu talento, é desperdiçar a possibilidade de crescimento, transformação e sentido. Pensar é mais do que um processo mental - é um ato sagrado.

É nesse espaço entre instinto e consciência que revelamos nossa origem divina. "Somos obra-prima da criação, e o pensamento é a assinatura do Criador em nós". Não seguimos apenas impulsos naturais: somos chamados a transcender. Julgar, criar, transformar.

Quando exercemos o pensamento com intenção, honramos essa herança.

Tornamo-nos coautores da nossa própria história, capazes de buscar sentido, propósito e redenção.

O mundo de hoje, com seus choques geracionais, crises culturais e relações líquidas, nos empurra para a superficialidade. Vivemos conectados, mas muitas vezes desconectados de nós mesmos. Perdemos o hábito de pensar, de meditar, de dialogar com o que realmente importa.

E, no entanto, é justamente esse exercício:

  • pensar com profundidade, meditar com intenção, desacelerar para ver - que pode nos devolver o sentido, a alegria e o propósito. Que eu, que você, que todos possamos lapidar nosso pensamento como quem cuida de um diamante.

Porque viver não é preencher o tempo, mas preenchê-lo de sentido.

E isso só se faz com atenção, consciência e, acima de tudo, coragem de pensar - e de multiplicar o talento que nos foi confiado.

Pensar é nossa identidade humana. Logo, se você não desenvolver este dom, certamente não se identificará como pessoa em nosso habitat coletivo!

Gilmar de Oliveira é Advogado, pós-graduado em Direito Público, em Direito Tributário em Direito Cível e Empresarial. É diretor da Cooperativa Agropecuária Vale do Rio Doce.

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