por Jamir Calili
Na noite de 13 de agosto, às 19h30, o Teatro Atiaia tornou-se altar da palavra escrita, placo de uma celebração que transcendeu os limites do efêmero: o Jubileu de Ouro da Academia Valadarense de Letras (AVL). Durante cinco décadas, esta instituição vem guardando, lapidando e irradiando a literatura de nossa cidade — um feito que merece ser contado, honrado e reconhecido por todos.
Fundada em 9 de agosto de 1975 pelo visionário Dr. Talmir Canuto, engenheiro e pesquisador com ampla trajetória, quando Valadares tinha somente 107.000 habitantes, a AVL surgiu com o sonho de transformar Governador Valadares em um polo de cultura e educação. Ele delineou uma instituição aberta, propícia a trocas intelectuais e à promoção literária. A professora Antônia Izanira Lopes de Carvalho — primeira presidente, com formação em Letras e passagem pela Sorbonne e PUC — materializou essa visão, reunindo os primeiros acadêmicos e promovendo intensa atividade cultural.
Naquela época, Valadares tinha pouco mais de 107 mil habitantes. Hoje, somos cerca de 260 mil, e a AVL cresceu com a cidade. Em 1977, foi reconhecida como entidade de utilidade pública, e em 2024, recebeu o título de bem cultural de natureza imaterial do município pelas mãos do então Prefeito André Merlo e de seu Secretário de Cultura, Kevin Figueiredo. Ao longo dessas décadas, a Academia promoveu feiras do livro, cursos de redação, oficinas linguísticas, publicou coletâneas e esteve presente em ações que extrapolaram seus muros, como o Projeto Remissão pela Leitura, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, levando literatura — e esperança — a presídios e unidades de internação. Onde havia desesperança, a AVL abriu portas para a liberdade por meio da palavra. Foi assim que, ao longo de décadas, a academia se consolidou como referência cultural e pilar da identidade literária valadarense — inclusive tendo sua atuação estendida a regiões.
Na celebração da noite do dia 13 de agosto, discursos emocionados do presidente Dr. George Wagner Simões — reeleito e médico escritor, poeta, orador e autor de “Rio dos Sonhos” — e da professora Izanira traçaram essa trajetória de resistência, paixão e serviço. Por meio de vídeo mensagem, Dr. Talmir Canuto relembrou um pouco da história de nossa Academia. Foram entregues medalhas de reconhecimentos a figuras emblemáticas: o ex-prefeito (atual vice-prefeito) José Bonifácio Mourão; a própria professora Izanira; e o idealizador Dr. Talmir Canuto, representado pelo vice-presidente da AVL, Dr. Cícero Moraes. Também receberam a honraria as professoras Déa Maria Ponciano e Nívea Faria de Castro Freitas, e o professor Ilvece Cunha — nomes que ajudaram a firmar as bases dessa casa de letras.
O lançamento da edição especial da revista Suindara, completando 25 anos, reforçou o papel da AVL como memória viva da cidade. Reunindo textos dos acadêmicos, essa publicação é um arquivo essencial, que conserva as vozes, os relatos e a história literária de Valadares — e agora ganha nova luz em ocasião tão simbólica.
O ápice emocional da noite foi o recital da pianista premiada Myrian Aubin — filha da acadêmica Maristela Aubin — e da violonista sul-coreana Hyu-Kyung Jung, da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Entre obras clássicas, emocionou especialmente
o arranjo para piano e violino do Hino da AVL, composto por Maristela Aubin e magistralmente preparado pelo Prof. Dr. Mauro Chantal (UFMG) — uma homenagem profundamente tocante, que consolidou a noite como memorável.
Conduzi a AVL, como presidente, durante dois anos (2019-2020), um deles em plena pandemia, mantivemos viva a chama da instituição, preenchendo vagas e preservando sua relevância. Naquela oportunidade aproveitamos das vantagens da tecnologia e promovemos encontros virtuais para defesa dos patronos dos acadêmicos. Hoje, mais do que nunca, em um contexto de polarização e crise social, a literatura e a cultura mostram sua força vital: são ponte, resistência, voz. A academia não é mera relíquia; é pulsar, criação, esperança. Como disse a professora Izanira em seu discurso, na última quarta-feira, é preciso prestigiar o livre pensar e a força do falar e escrever.
Governador Valadares vivenciou e vive uma diversidade de expressões culturais — do artesanato à literatura, do carnaval às artes cênicas —, mas a AVL ocupa lugar singular: é semente e farol, memória e futuro. Convido toda a sociedade valadarense a participar do próximo capítulo desta história: no dia 24 de setembro, na Câmara Municipal, às 19h, a AVL será oficialmente reconhecida e homenageada pelo Legislativo, em projeto de minha autoria, aprovado por unanimidade. Será ato de justiça e valorização de nossa cultura.
Que a Academia Valadarense de Letras continue sua missão: preservar o passado, afirmar o presente e irradiar o porvir — sob o lema Renascer para Ser. Afinal, enquanto houver letras, sonhos e leitores, haverá cidade, cultura e esperança.
Jamir Calili, professor da UFJF, vereador, membro da Academia Valadarense de Letras, na cadeira de Machado de Assis.