A Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) discutiu, nesta terça-feira (04/11/25), os prejuízos causados aos comerciantes, consumidores, contribuintes e empresários do Município de Barra Longa por empresas terceirizadas pela Fundação Renova, em decorrência do rompimento da barragem de Mariana, em 2015.
A criação da fundação foi uma obrigação da mineradora Samarco e de suas controladoras, os grupos Vale e BHP Billiton, responsáveis por financiar as atividades de reparação e compensação dos danos causados pelo rompimento da barragem. A Samarco não compareceu à audiência.
A reunião foi solicitada a pedido do presidente da comissão, deputado Adriano Alvarenga (PP), e recebeu representantes dos comerciantes de Barra Longa, do município e do Movimento dos Atingidos pelo Rompimento da Barragem de Mariana.
Alisson Magalhães Cotta, comerciante de Barra Longa, relatou um pouco do que viveu ao longo desta década.
“Amanhã faz dez anos de tamanha destruição que nossa cidade viveu. Estamos órfãos do respeito e da ombridade da Samarco, que por meio da Renova entrou na cidade. O comércio sofreu com as terceirizadas, empresas que tratamos com cuidado, e hoje reivindicamos o fruto do nosso trabalho”, disse.
Maria da Conceição, também comerciante de Barra Longa, relatou que ela e o marido tiveram prejuízos entre 2012 e 2014.
“O caso está na justiça e trouxe muita dificuldade financeira para minha família. Meu marido, que já tinha problemas de coração, teve a saúde piorada pelo pó de minério, viu seu comércio em decadência, teve depressão e faleceu. Até hoje não recebi a parte que me cabe da indenização como viúva”, lamentou.
Inúmeras perdas
Everton Fraga Trindade, representante dos comerciantes de Barra Longa, acrescenta que, além do contexto financeiro, o município também perdeu a única fonte de lazer que a cidade tinha, o campo de futebol.
“Após 10 anos, ainda estamos aqui reivindicando direitos. Fico triste porque diante de um acordo bilionário, nós temos comerciantes sofrendo calote de terceirizadas. São mais de 40 comerciantes lesados. Nós não conseguimos trabalhar direto para Samarco ou para a Vale. São mais de R$ 500 mil de prejuízo. Não estamos falando de indenização, queremos receber aquilo que merecemos pelo nosso trabalho sem tomar calote”, pediu.
O deputado Adriano Alvarenga destacou a urgência e a relevância do encontro.
“Vocês merecem uma resposta, porque acreditaram nas empresas terceirizadas. Não adianta a Samarco falar que não tem responsabilidade, porque se o serviço foi terceirizado a empresa é corresponsável. Ela tem responsabilidade desde o dia 5 de novembro de 2015, quando a lama invadiu a cidade. A empresa enriqueceu a partir das riquezas do solo mineiro e precisa respeitar toda a população.”

Duarte Eustáquio Gonçalves Junior, ex-prefeito de Mariana e ex-deputado federal, defendeu a união de todos para que se consiga alcançar o objetivo.
“O que fazemos aqui hoje é dar voz aos envolvidos, aos comerciantes, aos atingidos. Tem gente que mora na mesma rua e um morador foi indenizado e outro não. Os R$170 bilhões do acordo é muito dinheiro, mas nós acreditamos que esse valor foi mal distribuído”, afirmou.
O prefeito de Barra Longa, Elson Aparecido de Oliveira, lembra que o município foi o mais atingido pelo rompimento da barragem e, mesmo assim, nunca houve representantes da cidade nas discussões.
“Também sou comerciante na cidade e sei o que eles estão passando. É um absurdo que os representantes da Samarco não estejam aqui para ouvir o povo”, reclamou.
Greison Anderson de Souza da Costa, presidente da Câmara Municipal de Barra Longa, relembrou o desespero do dia do desastre e dos estragos diante do mar de lama.
“Na madrugada do dia 6 de novembro, o tsunami de lama chegou na nossa cidade, com 19 perdas humanas e um dos maiores desastres ambientais do mundo, sem que ninguém fosse responsabilizado até hoje. Muitas locais foram varridos do mapa, como a comunidade quilombola de Gesteira. Foram mais de 40 residências alagadas, escolas, igrejas, praças e comércios. A identidade de Barra Longa segue ferida até hoje”, lamentou.
Liderança do Quilombo de Gesteira, Simone Silva falou sobre os problemas no território, incluindo o não recebimento de indenização dos moradores do quilombo e a falta de autonomia para escolher a assessoria técnica.
“É preciso ter peito para enfrentar o sistema. Nesses anos, perdi minha avó, tenho uma filha de 10 anos contaminada por metais pesados. Esse acordo foi feito sem participação de quem foi realmente atingido. São dez anos do crime da barragem e também do crime do acordo de repactuação. O quilombo foi varrido do mapa, não conseguimos indenização e hoje temos uma assessoria que foi imposta”, disse.
A vereadora de Barra Longa Valéria Aparecida da Silva falou sobre a falta de visibilidade para as crianças do município.
“O programa designado para nos apoiar não enxerga as crianças e prejudicou ainda mais as pessoas atingidas, pois classificou e diferenciou os atingidos. A saúde do município também foi muito prejudicada. Somos campeões em uso de ansiolíticos e os casos de cânceres também aumentaram com a presença frequente do minério”, acrescentou.
A vereadora também denunciou a empresa Aedas, designada para fazer assessoria técnica do município, e a falta de retorno do Ministério Público, que de acordo com ela ainda não prestou conta sobre o acompanhamento que está sendo feito.
Amarildo de Assis, vereador de Barra Longa, pede que o crime não fique sem solução.
“Sempre tem uma conversa de que vão nos reconhecer. Oferecem um cartão como se isso fosse retomar as vidas perdidas. Muitos acham que dinheiro paga o que a Samarco fez, mas dinheiro não paga o que aconteceu”, clamou.
Ao final da reunião, o deputado Adriano Alvarenga garantiu aos presentes que a discussão não ficaria restrita à audiência. Foram feitos diversos requerimentos com pedido de informações e providências à Samarco e a órgãos estaduais e federais, de forma que a população de Barra Longa possa receber retornos formais sobre o que foi pontuado no encontro.
Com informações do site oficial da Assembleia Legislativa de Minas Gerais





