por Tohru Valadares
Caríssimo ledor(a), um chamado ao respeito, ao amor e à convivência pacífica na diversidade da fé, o dia 21 de dezembro marca no Brasil o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, uma data que convida a refletir sobre a convivência entre diferentes crenças, um desafio ainda presente, mas absolutamente necessário para a construção de uma cultura de paz.
Criado para conscientizar a população sobre a necessidade de garantir a liberdade de expressão religiosa, esse dia também denuncia ataques, preconceitos e discriminações vividas por grupos religiosos ao longo da história, uma triste realidade ainda vivida e vivenciada por muitos.
A intolerância religiosa, em qualquer forma verbal, simbólica, ideológica ou física é um grave atentado ao direito humano mais básico: o de crer (ou não crer) conforme a própria consciência. A fé é uma dimensão íntima e sagrada da existência humana, e a liberdade de professar uma crença está assegurada na Constituição e reconhecida pela tradição cristã como um dom concedido por Deus. A diversidade religiosa não é um acidente, mas parte da vontade ou permissão do Criador, que conduz a história humana com sabedoria e liberdade.
A convivência entre diferentes expressões de fé sempre existiu, e na visão cristã não deve ser motivo de hostilidade. As diferenças não podem ser tratadas com indiferença, desrespeito ou conveniência pessoal. Jesus, ao longo do Seu ministério, demonstrou grande respeito pelos que professavam outras visões religiosas dentro do contexto da Palestina do século I.
Ele dialogou com samaritanos grupo desprezado pelos judeus de sua época como no encontro com a mulher samaritana (João 4,1-42). Mesmo pertencendo a tradições religiosas distintas, Jesus não ergueu barreiras, e sim, multiplicou pontes; ao contrário de muitos, acolheu, ouviu e abriu espaço para a verdade.
Outro exemplo marcante é o Bom Samaritano (Lucas 10,25-37), parábola na qual Jesus exalta justamente o personagem de outra religião para mostrar que a verdadeira fé se revela no amor ao próximo, no acolher e cuidar, ainda que diferente, praticando o amor para com o outro.
Mesmo entre os próprios judeus havia diferenças profundas: fariseus, saduceus, essênios e escribas cada grupo professava formas particulares de praticar a religião. E ainda assim, Jesus conversava, ensinava, corrigia e demonstrava respeito, sem jamais incitar violência ou discriminação. Seu evangelho aponta sempre para a dignidade humana, independentemente da crença ou origem.
O ensinamento cristão: amor, acolhimento e respeito
A mensagem de Cristo permanece atual e necessária. Ele nos ensinou que: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros.” (João 13:35) “O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como Eu vos amei.” (João 15:12)
Nenhuma forma de intolerância encontra apoio na vida e nos ensinamentos de Jesus. Ele acolhia pessoas de diferentes origens, dialogava com estrangeiros, entrou na casa de publicanos, conversou com pagãos e demonstrou sempre que a fé verdadeira se expressa através da misericórdia.
A fé cristã nos recorda que o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:27). Isso significa que cada pessoa independente da religião que professa possui dignidade sagrada. Assim, desrespeitar o outro por sua crença é, de certo modo, desrespeitar o próprio Criador, que lhe conferiu liberdade e espiritualidade. Um chamado à sociedade: mais respeito, mais amor, menos julgamento.
O dia 21 de dezembro não é apenas uma data no calendário: é um alerta, um convite e uma responsabilidade ético-espiritual. Somos chamados a: combater qualquer forma de discriminação religiosa; espeitar templos, símbolos, práticas e rituais de todas as tradições; rejeitar discursos que inferiorizem a fé do outro; cultivar o amor como caminho para a convivência pacífica; educar as novas gerações para a tolerância, o diálogo e a empatia.
Como cristãos, somos lembrados de que Jesus nunca impôs Sua fé de forma violenta, pelo contrário, suas ações eram pautadas no amor e respeito. Ele convidava, ensinava, amava e transformava pelo exemplo. Tenham sempre isso em mente, o amor é sempre maior do que o julgamento.
A diversidade religiosa é parte da riqueza do mundo, e cada religião, com sua história e seu povo, ocupa um espaço permitido por Deus no tempo presente. Não podemos transformar diferenças em barreiras, nem permitir que o preconceito seja alimentado por ignorância ou conveniência.
Ao celebrarmos o Dia de Combate à Intolerância Religiosa, somos chamados a viver o evangelho na prática. Amar mais, acolher mais, julgar menos. Respeitar o outro em sua fé e reconhecer que o Criador age com liberdade e soberania, permitindo que a humanidade trilhe caminhos diversos rumo ao mesmo anseio divino: a busca pelo sagrado.
Que cada pessoa, independente da religião que professa, encontre espaço para viver sua fé com liberdade, segurança e dignidade. E que nós, como cristãos, sejamos instrumentos de paz, diálogo e pontes nunca muros na sociedade. “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.” (Mateus 5:9). Paz&Bem.
TOHRU VALADARES bacharel em Teologia, Filosofia, Licenciado em Ciências da Religião, Psicólogo, Pós-graduado em conselhamento Cristão e Capelania, mediação de conflitos, filosofia Religiosa e ecopedagogia.





