Edmundo: Dona Penha, é uma honra conversar com a senhora. Para começarmos, conte um pouco sobre suas origens. Onde nasceu e de onde veio seu nome tão bonito?
Dona Penha: Eu que agradeço, Edmundo! Nasci em 24 de fevereiro de 1927, em Aimorés, Minas Gerais. Sou filha de Antônio da Rocha Lobo Filho e de Judith Dias Lobo. Recebi o nome ‘Maria da Penha’ em homenagem a Nossa Senhora da Penha. Eu nasci muito fraquinha, e meus pais fizeram uma promessa: se eu sobrevivesse, me levariam para ser batizada no Convento da Penha. E assim foi. Recebi ali uma grande bênção - uma vida longa e cheia de saúde.
Edmundo: Que linda história! E como começou o seu amor pelo magistério?
Dona Penha: Desde cedo, descobri que ensinar era a minha paixão. Formei-me professora em 1945, ainda em Aimorés. Logo depois, mudei com minha família para Governador Valadares, onde iniciei minha trajetória como educadora.
Edmundo: E como foi essa mudança para Valadares?
Dona Penha: Foi um novo começo. Valadares ainda era uma cidade em crescimento, mas já muito acolhedora. Aqui construí minha vida. Em 1954, me casei com o Waldemiro Resende. Tivemos quatro filhos: Judite, Walmir, Josane e Penha. Eles me deram onze netos e, agora, estou prestes a conhecer meu sexto bisneto.
Edmundo: Que bênção! E antes de se dedicar totalmente ao ensino, a senhora também trabalhou em outras áreas, não é?
Dona Penha: Sim, trabalhei um tempo na contabilidade da Casa Cruzeiro e no Banco de Minas. Mas, depois que me casei, resolvi me dedicar integralmente à carreira de professora.
Edmundo: E essa dedicação durou muitos anos...
Dona Penha: Foram décadas de muito amor e compromisso. Trabalhei em várias instituições: o Grupo Nelson de Sena, o Colégio Ibituruna, o Grupo São José e, por mais de 26 anos, no Colégio Imaculada Conceição. Lá, fiz uma dupla jornada - lecionava no particular e também no estadual. Me aposentei em 1986, com o coração cheio de gratidão por ter ajudado a formar tantas gerações.
Edmundo: E até hoje a senhora é lembrada com carinho pelos ex-alunos.
Dona Penha: Ah, isso é o que mais me emociona! Em qualquer lugar que vou, sempre aparece alguém dizendo: ‘Dona Penha, fui seu aluno!’. Nem sempre lembro o nome, mas as carinhas vêm todas à memória. Muitos me dizem que se tornaram professores por minha causa. Isso é o maior presente que eu poderia receber.
Edmundo: Dona Penha, eu não sei se a senhora sabe, mas eu sou irmão da Penha Braga - da também ‘Maria da Penha’ Braga. Ela foi sua aluna e, mais tarde, colega de trabalho lá no Colégio Imaculada Conceição. A senhora se lembra disso?
Dona Penha: Claro que lembro, Edmundo! A Penha sempre foi uma aluna muito aplicada, dedicada, inteligente. E mais tarde, quando nos tornamos colegas, foi uma profissional exemplar. Tive muita alegria em reencontrá-la como professora - ver uma ex-aluna brilhando ao meu lado foi uma grande satisfação.
Edmundo: Que bonito isso! E é verdade que a senhora era uma professora de matemática exigente?
Dona Penha: [risos] É, dizem que eu era brava! Mas eu sempre quis o melhor para os meus alunos. Eles lembram que eu era firme, mas justa. O importante é que, junto com a matemática, consegui transmitir também valores e disciplina.
Edmundo: Hoje, aos 98 anos, como a senhora se sente olhando para tudo o que viveu?
Dona Penha: Sinto-me muito grata. Tive uma vida plena, repleta de amor, trabalho e realizações. A matemática me acompanhou até hoje - acho que ela me ajudou a manter a mente afiada. Continuo fazendo sudoku, uso a internet e gosto de me manter atualizada. É impressionante como a mente pode continuar curiosa e ativa, mesmo depois de tantos anos.
Edmundo: Que exemplo de vida, Dona Penha!
Dona Penha: Obrigada, meu filho. Eu só posso agradecer a Deus por tudo - pela família, pelos alunos e por ter tido a chance de fazer o que mais amei: ensinar.
Edmundo: E nós é que agradecemos, Dona Penha, por tudo que a senhora fez pela educação e por tantas gerações em Governador Valadares. É um privilégio poder registrar um pouco da sua história.
Dona Penha: Fico muito feliz, Edmundo. Que Deus abençoe você, sua família e todos que continuam acreditando no poder transformador da educação.
Edmundo: Amém! Que Ele abençoe também a senhora e os seus!
Gente, que exemplo de vida!
- Edmundo Alvarenga





