por Marcius Túlio
Desde a aclamada redemocratização, vivenciamos no Brasil uma verdadeira República de Nárnia, não com seres mitológicos, mas igualmente assustadores e mutantes.
Nascida do revanchismo contra o Regime Militar, a redemocratização deu vida aos preteridos e mais tarde aos perseguidos pelo antigo Regime, que consideravam autoritário e antidemocrático, frutos da comemorada Anistia Geral Ampla e Irrestrita, concedida pelo próprio Regime Totalitário, em 1979, o que aparentemente é uma incoerência.
A partir da chamada Nova República, o que de fato presenciamos foi enxurradas e mais enxurradas de escândalos de corrupção ativa e passiva, que deu uma nova definição de democracia, a voracidade dos outrora preteridos, perseguidos e oportunistas sobre o erário e sobre a especulação financeira, se tornou viral, redesenhando a já conturbada História do Brasil.
Embora militar de carreira, não considero que a administração militar seja a mais adequada para gerir uma nação em face das peculiaridades que a vida militar exige de forma geral, alguns princípios de lá são edificantes na construção de uma nação, mas o poder há de ser democraticamente político, tendo nos militares seu pilar vital para o atingimento dos anseios da população. O militar pode ser político, mas a política não pode ser militar.
Os feitos da famigerada Nova República não demoraram a surtir seus efeitos catastróficos, em apenas 40 anos, defenestrou a cidadania brasileira, subjugando-a aos caprichos ostentados pelos novos poderosos e sua voracidade egocêntrica.
Nesse contexto, vale registrar que os Presidentes Militares, ou ditadores, faleceram um a um no ostracismo político e financeiro, que no mínimo é emblemático.
Acompanhando a vida da Nova República, passamos por Plano Cruzado, Pastas Rosas, máfia das ambulâncias, mensalão, lava-jato, petrolão, máfia dos respiradores, rombo nos Correios, rombo no INSS, Operação Carbono Oculto, dentre vários outros escândalos ensurdecedores, situamo-nos numa encruzilhada sinistra, verdadeiro labirinto de opções em que sempre o povo sairá perdendo.
O amálgama político formado a partir da redemocratização permitiu a construção e solidificação de um sistema político inominado, baseado em premissas supérfluas que se materializam conforme os desígnios do poder vigente, acarretando desastres financeiros, sociais e políticos que rapidamente são acobertados por manobras evasivas comumente lacradas como cortinas de fumaça e com sigilo de 100 anos.
Criminosos desfilam como destaque em Escolas de Samba no carnaval das falcatruas em que foram protagonistas, desafiando as leis da física e da lógica, são eleitos, ocupam cargos de confiança em governos obscuros e estabelecem regras e padrões de comportamento que os blindam no círculo íntimo do poder.
Denunciados passam a vítimas e denunciantes perseguidos, denunciados, presos ou mortos pela fúria incontida dos deuses consagrados pela corrupção, fatos são substituídos por narrativas ou desqualificados por uma sentença preventiva que garanta o esquecimento coletivo.
Os feitos são cada vez mais insolentes e os efeitos cada vez mais arrebatadores, se tornando tsunamis de constrangimentos e de vergonha nacional. Não há mais barreiras, não há mais limites ou dissimulações em delinquir, o silêncio acovardado pela volúpia se aliou de forma definitiva.
O efeito da passividade, subsidiado pelos feitos concatenados com maestria e precisão surge de forma avassaladora, confunde os sábios, cega os ímpios, soterrando o conhecimento para estabelecer a Nova Ordem.
O amanhã não é mais seguro, o ontem já não existe mais, o presente atordoa impiedosamente com resquícios de crueldade, impondo uma realidade perversa e contraditória, sem luz no fim do túnel.
“Profecias são feitas para não serem cumpridas, mas para alertar e orientar a humanidade.” (Emmanuel)
Paz e Luz.
Marcius Túlio é Coronel da Polícia Militar de Minas Gerais e analista político