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Na década de 1980, GV era destaque no cinema nacional

Protagonistas dos filmes Bete Balanço (Débora Bloch) e Tropclipe (Marcos Frota), em 1985, eram personagens valadarenses, que migraram para o Rio de Janeiro, em busca da fama
Pausa para almoço nas gravações de Jorge, um brasileiro, na Rua São Paulo com Castro Alves, em 1987. O ator Antônio Grassi está à esquerda, debaixo da placa de trânsito; Paulo Castelli sentado à mesa, na esquina, e Carlos Alberto Riccelli, lendo o roteiro. Foto: Divulgação
quinta-feira, 1 fevereiro, 2024

No meio da década, em 1984, o nome de Governador Valadares era falado em todas as salas de cinema do país, nos telejornais, no rádio, e escrito diversas vezes em um mesmo texto, em jornais como O Globo, Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, nas revistas Veja e IstoÉ, nas revistas da TV.

“Quem é você? Eu sou Bete! Bete, Bete, Bete... de onde? Bete, de Valadares! Ah, você é a moça que canta? Esses diálogos são do filme Bete Balanço, do diretor Lael Rodrigues, que conta a história de Bete (Débora Bloch) uma mocinha de 17 anos, moradora de Governador Valadares, cantora, que desiste de uma vaga na faculdade de Medicina e parte para o Rio de Janeiro, movida pelo sonho de ser cantora.

O filme não foi rodado em Valadares e causou certo desconforto no público valadarense logo no início. Ao conferir seu nome na lista dos aprovados do vestibular, Bete está na frente das Faculdades Integradas Governador Valadares, de Ubá, MG, locação usada pelo diretor.

Mas o filme tem tudo a ver com o valadarense que já partia como ave de arribação para os Estados Unidos e capitais brasileiras. Nesse caso, é preciso ter coragem, ser valente. E Bete cantava no início do filme: “vem comigo, no caminho eu te explico”, letra do genial Cazuza. A cara do sonho do imigrante.

O figurino do filme era marcado pela moda praia carioca, claro, quem bancou a produção foi a empresa que fabricava as calças Inega, o jeans de Ipanema. A crítica ao filme na Folha de S.Paulo foi impiedosa. O crítico escreveu que o filme tinha 1 hora e 20 minutos de desfile de moda.

Curiosamente, Bete e o elenco vestiam as roupas que eram vendidas pelas lojas da Avenida Minas Gerais e Bárbara Heliodora: Pier, Inega e outras. E por que Bete era valadarense? O diretor Lael Rodrigues não disse isso nas entrevistas que concedeu à época do lançamento de Bete Balanço. 

Disse depois, quando veio em Governador Valadares com uma galera do vôo livre, lançar seu novo filme, Rádio Pirata, em 1987. Explicou que um amigo sempre lhe falava de Governador Valadares, das moças bonitas, da emigração, do Pico da Ibituruna. Pronto. Explicado!

No rastro do sucesso de Bete Balanço, Tropclip (1985) foi um filme com enredo bem parecido. O diretor Luiz Fernando Goulart traçou o personagem Emiliano (Marcos Frota) como um jovem “disc jockey” (bem diferente dos DJs de hoje), que sonha emplacar sua carreira de DJ e movie maker, mais precisamente na área dos videoclipes, a febre do momento, que ganhava espaço com a chegada do vídeos cassetes e das filmadoras. Destino de Emiliano: Rio de Janeiro.

Na busca de apoio para a sua sandice, ele bate na casa de Bete Balanço. A empregada o recebe e ele diz que deseja entregar uma carta para Bete. “Quem é você?” “Fala que é o Emiliano, de Valadares”. E Bete grita, lá de dentro da casa: “não posso atender, estou muito cansada, quebrada com o show no Rock in Rio”. No filme, Emiliano diversas vezes diz ter saudade de Valadares e ameaça voltar para a sua cidade, depois de realizar o seu sonho.

Na sequência dos sucessos nacionais, Valadares continua nas telas do cinema nacional com o filme Jorge, um brasileiro. Esse sim, foi filmado em Governador Valadares e em algumas cidades da região leste, em 1987, sob a direção de Paulo Thiago. O filme teve a participação de vários valadarenses, como a modelo Cláudia Saraiva e os músicos da cidade, como Cidão e Celinho, da Banda Ramal 14. 

Durante as gravações era possível andar pela cidade e encontrar com gente famosa, como Carlos Alberto Riccelli, Antônio Grassi, Paulo Castelli, Roberto Bonfim e Bruna Lombardi (que veio a passeio ver o marido, Riccelli) e outros nomes do elenco. O filme discutia temas polêmicos, como a reforma agrária, as estradas em condições precárias e as condições adversas enfrentadas pelos caminhoneiros, personagens vividas por grande parte do elenco masculino do filme.

Texto de Alpiniano Silva Filho (Tim Filho)

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