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Incoerências, incongruências ou absurdos?

Leia a coluna desta semana de Marcius Túlio
Política. Foto: Getty Images
domingo, 5 outubro, 2025

por Marcius Túlio

É notável a capacidade do brasileiro em se adaptar aos mais diversificados ambientes disponíveis no planeta azul, seja nos campos físico, emocional, psicológico ou político. É inegável que esse fenômeno se dá por uma questão de sobrevivência, observados também os aspectos de subserviência e, em última análise, de resignação.

Ao voltarmos nossos olhos para a coexistência dentro do Brasil, deparamos com situações inexplicáveis sob o ponto de vista da simetria e da lógica, embora essa última seja comumente invertida para atender o curso da estória construída por narrativas adequadas ao interesse do poder.

Dessa forma, acontecimentos que seriam considerados bizarros em outras civilizações são perfeitamente assimilados e digeridos pelo insipiente povo brasileiro e se tornam normais, corriqueiros e até naturais, característica que talvez legitime o charmoso “jeitinho brasileiro”, já manjado nos meios internacionais.

O que dizer, por exemplo, de um golpe de Estado sem armas, sem tropa militar, sem lideranças, desenhado em função de manifestações populares compostas por idosos, crianças, vendedores ambulantes que usavam como bandeira a Bíblia Sagrada?

Sendo uma manifestação popular ou do povo onde está o golpe se o Estado é o povo?

Como entender que um juiz, da chamada Suprema Corte pode julgar a si mesmo em caso de corrupção comprovadamente efetivado?

Não é fácil, pelo menos para mim, absorver que, numa ambiência dita de Estado de Direito, ações primárias são julgadas pela última instância, ceifando qualquer intenção recursal?

Mais ainda, um juiz que atua na persecução, na acusação, define testemunhas e no final, exara sentença, meus dois neurônios entram em pânico e se fundem em pane.

Qual deve ser o meu entendimento quando uma enxurrada de denúncias, devidamente documentadas, sobre coação, arbitrariedades, violações de direitos fundamentais, arranjos espúrios dentre outras irregularidades constitucionais são expostas ao mundo e o protagonista permanece impassível no controle dessas mesmas ações criminosas?

Como explicar a um “gringo” que os integrantes de uma quadrilha de fraudadores da previdência, conhecidos, ainda habitam as esferas do poder com status, prerrogativas e proteção judicial?

Não sei também como tentar dizer a alguém que réus confessos no maior esquema de corrupção da História, que inclusive devolveram dinheiro desviado ao erário, ainda estão decidindo os destinos do país, desfrutando de sua fortuna duvidosa e ostentando seus feitos impunemente.

É difícil também entender que existem deputados federais com menos votos que um vereador de uma cidade de porte médio, e que são contumazes em reeleição. Pode parecer piada, por essa razão, talvez, nem sequer falamos disso.

Não é demais lembrar que temos na Suprema Corte um Ministro que foi reprovado em concursos para a magistratura, Ministro que advogou para terrorista internacional, Ministro que é proprietário de empresa fora do país, Ministro que plagiou obra de doutorado, que temos um condenado por corrupção em todas as instâncias como Presidente da República.

Também consta que escritórios de advocacia pertencentes a familiares de Ministros do STF atuem diretamente naquela corte, com ações multimilionárias em curso na mesma corte, sem nenhuma oposição dos órgãos responsáveis pela lisura do direito.

Foge à minha percepção também que alguns funcionários públicos, assalariados, apesar de toda a legislação que os controla e restringe, possuam fortunas imensuráveis, dentro e fora do país, sem um mínimo de constrangimento ou limites.

No famigerado Congresso Nacional, respeitadas as honrosas exceções, temos um elenco de congressistas detentores de um rosário de crimes, os mais diversos, verdadeiros parasitas do erário e da credulidade pública, descompromissados com seu nobre dever de representar a população e comprometidos com os projetos de poder do seu partido e com seus interesses pessoais.

É praticamente impossível enumerar tudo que se passa no Brasil nesse sentido numa só missiva, provavelmente cada brasileiro tem algum item a acrescentar, mas isso é personalíssimo.

Por fim, deixo a cada um a análise, incoerente, incongruente ou absurdo, a decisão é sua.

Paz e Luz.

Marcius Túlio é Coronel da Polícia Militar de Minas Gerais e analista político

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