por Edmundo Alvarenga
Quando falamos da Independência do Brasil, pensamos em D. Pedro, no grito às margens do Ipiranga, nos símbolos oficiais. Mas e se olharmos por outro prisma?
O Brasil, ao se tornar independente de Portugal, não se libertava apenas da metrópole: libertava-se também da ideia de ser sempre ‘provisório’.
Até 1822, tudo o que se fazia aqui era para servir a outro lugar. As estradas, os portos, a burocracia [nada era ‘nosso’, tudo era ponte para fora]. A Independência, então, pode ser vista como o momento em que o Brasil começou a existir para si mesmo, ainda que de forma imperfeita.
É curioso pensar que, ao contrário de outras nações, o Brasil nasceu como país sem se inventar no conflito popular, mas sim pela manutenção de uma continuidade: um príncipe português proclamando a separação. Ou seja, o Brasil começou independente sem romper de fato com as velhas estruturas.
E aí está o paradoxo: a Independência foi, ao mesmo tempo, um ato de ruptura e de conservação. Foi como se o país tivesse dito: ‘Quero ser dono de mim, mas ainda vou continuar me parecendo com você’.
Talvez a grande reflexão seja esta: a Independência não foi apenas sobre separar-se de Portugal, mas sobre começar a perguntar: ‘Quem somos quando não precisamos mais obedecer a ninguém?’.
E, dois séculos depois, a pergunta ainda ecoa.
· Pra fechar:
A Independência não foi esse gesto heroico, solitário, de um príncipe exaltado. Foi um processo cheio de negociações políticas, pressões externas e interesses econômicos. Para se ter ideia, Portugal só reconheceu oficialmente a Independência depois que o Brasil pagou uma fortuna em indenização [financiada pela Inglaterra].