por Hermínio Fernandes
A podridão é gigantesca e nebulosa que envergonha e mancha o nosso futebol, aqui e no exterior. Uma verdadeira guerra política e jurídica avança como um furacão pela entidade que rege o esporte mais praticado e amado pelo povo brasileiro, e que movimenta milhões de reais nos clubes, na CBF e na economia do país.
Eles poderiam estar discutindo maneiras de melhorar o esporte e corrigir os aspectos negativos que atrapalhamos clubes e o futebol brasileiro de modo geral.
Como o excesso na quantidade de jogos por temporada, adequar o calendário do futebol brasileiro ao resto do mundo, a saída precoce de atletas para o exterior, que hoje a idade mínima é de 18 anos, e poderia ser pelo menos 20, a profissionalização dos árbitros, o tempo de disputa e a quantidade de clubes dos campeonatos estaduais que ocupa um espaço muito grande no calendário do nosso futebol.
Mas isso não parece ser prioridade dentro da entidade que vem convivendo há muito tempo com escândalos que vão desde desvios de dinheiro, corrupção, manobras jurídicas e até escândalo sexual.
Para se ter uma noção desse abismo, por muito pouco não ficamos de fora do campeonato pré-olímpico, que possibilitou à nossa seleção disputar uma vaga nas Olimpíadas, que nos deu medalhas de ouro nas últimas duas edições, 2016 no Brasil, e 2020 no Japão.
Foi necessária uma intervenção do STF, que através da decisão monocrática de um ministro e que ainda será levado ao plenário, e possivelmente modificada futuramente, ou seja, não há nada definitivamente resolvido. Vale lembrar que existe a legislação desportiva e órgãos competentes para reger e julgar o esporte.
O TJ que são tribunais regionais de cada estado e a autoridade máxima que é o STJD Superior Tribunal de Desportiva. Portanto, não pode ser considerado normal que haja uma interferência de um órgão maior da justiça comum. Existe no nosso país uma separação jurídica entre a esfera civil e a esportiva.
Sabemos por exemplo que existe uma lei que proíbe os clubes de acionarem a justiça comum para tratar de causas esportivas podendo o clube ser excluído de competições e até ser rebaixado caso isso ocorra. Fato é que essa interferência parece ter sido necessária diante de uma guerra de liminares e uma disputa pelo poder no entorno da CBF.
A FIFA, preocupada com a atual situação da entidade maior do nosso futebol, fez uma visita de emergência a CBF na última segunda-feira (8/1) e através de pronunciamento do seu departamento jurídico, se disse aliviada com a recondução de Ednaldo Rodrigues ao cargo de presidente da CBF, já que uma possível virada de mesa, seja através de uma manobra política ou de maneira interna dentro da própria instituição, poderia gerar uma punição aos clubes brasileiros e até mesmo à seleção brasileira.
E em paralelo a toda essa balbúrdia futebolística, o presidente reconstituído, Ednaldo Rodrigues, que no intervalo de um ano acertou a saída de Tite, contratou e demitiu Fernando Diniz,e jurava já estar acertado com Carlo Ancelotti, acabou anunciando oficialmente na última quarta-feira (10/1), o nome de Dorival Júnior para comandar a nossa seleção de futebol.
O nome agradou aos torcedores, exceto os são-paulinos, é claro, uma vez que ele conseguiu reconstruir o time tricolor e ao mesmo tempo comandou o time do Morumbi de tantas glórias no passado na conquista de um título nacional após um longo jejum que já durava 15 anos, conquistando a Copa do Brasil 2023 em cima do respeitado e favorito time do Flamengo, o que também rendeu ao tricolor uma vaga direta à Copa Libertadores de 2024.Será essa uma máxima de que às vezes o errado dá certo?
Sabemos que apesar de ser raro e passível de ocorrer no futebol, mas isso somente o futuro nos mostrará. Mas para tentar entender o que realmente está acontecendo, ou seja, para conseguir enxergar o tamanho do buraco que envolve a cartolagem que comanda o nosso futebol, é preciso voltar um pouco no tempo.
No dia 7 de dezembro, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, foi afastado do cargo pela 21ª Câmara de Direito Privado do TJ-RJ, em tese, o atual presidente Ednaldo Rodrigues não é o único responsável pelo que está ocorrendo, uma vez já que ele se tornou presidente em 2022.
Essa disputa começou em 2018 quando o MP do Rio de Janeiro entendeu que as mudanças no estatuto da entidade não estavam de acordo com a Lei Pelé, que prezava pelo igualitário entre clubes e federações. Pouco antes, outro escândalo atingiu a entidade.
O então presidente Rogério Caboclo, filho de um ex-dirigente do São Paulo que havia assumido a presidência da CBF com aval da FIFA, e seu "Padrinho", Marco Polo Del Nero, que o antecedeu, e também fora afastado e banido do futebol pela FIFA, este fora substituído pelo vice Antônio Carlos Nunes ou simplesmente Coronel Nunes, como era conhecido, que posteriormente viria novamente ser acionado, desta vez para substituir Rogério Caboclo.
Alguns anos atrás, José Maria Marin, que foi sucessor de Ricardo Teixeira, ambos presos nos Estados Unidos por crimes de sonegação, corrupção e lavagem de dinheiro. Rogério Caboclo foi denunciado à comissão de ética da entidade por acusações de assédio sexual emoral contra uma funcionária do alto escalão da CBF. Ela também o acusou de fazer consumo de álcool durante o expediente no prédio da CBF.
Após muita pressão da imprensa e de patrocinadores que ameaçaram deixar a entidade, ele foi afastado definitivamente do cargo. Nesse momento, o vice mais velho, é novamente acionado e reaparece a figura de Coronel Nunes.
Em seguida, Ednaldo Rodrigues, na condição de vice-presidente, participa de um termo de ajuste de conduta (TAC) junto ao MP-RJ, que possibilitou que ele se tornasse presidente da entidade por quatro anos, sem que houvesse a realização de eleição.
Diga-se de passagem, esse termo foi assinado sem o aval dos demais vices que compunham a diretoria da entidade, o que foi visto por eles como uma manobra de Ednaldo para alcançar a presidência da CBF.
Então, acionaram o Ministério Público que resultou na decisão no dia 7 de dezembro de 2023, no seu afastamento através dos desembargadores do STJ que nomearam o seu presidente José Perdiz para assumir o cargo durante o afastamento de Ednaldo.
A verdade é que entre presidentes e interinos já foram seis sucessores e nenhum deles conseguiu se firmar após a saída do longevo ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira, cartola que presidiu a CBF entre 1989 e 2012, ou seja, por 23 anos, do qual ninguém pode tirar o mérito de ter conquistado Tetra em 1994 e o Pentacampeonato da Copa do Mundo em 2002.
Ele é genro de João Havelange, único brasileiro a presidir a FIFA, naquela que era considerada uma ditadura do futebol, já que este presidiu a entidade por 24 anos.
De 1974 a 1998, ele que deu o primeiro nome ao Estádio Engenhão e que após as denúncias em sua gestão à frente da FIFA, passou a ser chamado merecidamente de Estádio Nilton Santos, homenagem a aquele que é considerado o maior lateral direito de todos os tempos do futebol mundial, mas isso é assunto pra outra oportunidade.
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