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O Império das vontades

Leia a coluna desta semana de Marcius Túlio
Politica. Foto: Reprodução da Internet
domingo, 20 abril, 2025

por Marcius Túlio

É de domínio público que as vontades próprias não combinam com política, muito menos com atos e decisões judiciais.

É sabido também que a supremacia das vontades próprias sobre os interesses coletivos ou públicos é uma característica marcante dos regimes totalitários, sempre regados com crueldade e pelo autoritarismo que subjuga e despreza a cidadania e as liberdades necessárias aos populares.

A relação entre déspotas amantes da truculência política, estruturados numa base autoritária de poder garantidos pelo império das vontades se impondo contra a cidadania e as civilizações sempre foram caóticas com fortes tendências a tragédia.

Enquanto os interesses de uma civilização estiverem subjugados pelas vontades, conceitos de democracia estarão abandonados nos porões da História da humanidade, vontade própria nem sempre combina com liberdade.

O princípio da tripartição do poder, que inspira o conceito de república, tão defendido por filósofos e iluministas, se dissipa a partir do momento em que a vontade própria passa a regular as atividades do Estado e das civilizações, o embrião do poder é o povo, desprezar isso é aborto, a república é natimorto.

Vivemos um período sombrio onde as vontades próprias estão afloradas na cúpula do poder governamental, vastas decisões contrárias aos interesses da população são impostos sob a égide de narrativas instrumentadas por artimanhas ilusionistas que estrangulam a convivência harmônica exigida pela democracia.

Medidas extravagantes que desafiam a moral e o bom senso se sustentam com vigorosa cumplicidade dos que detém o poder, com a sucumbência dos princípios que norteiam soberania do povo, como exige a democracia, impondo a toda uma geração a condição de vassalos ou de zumbis democratas.

O império das vontades extravagantes está instalado com roupa- gem e discurso de democracia, aliciando cada vez mais a antipatia e o desprezo internacional, a ponto de rotular o Brasil e os brasileiros como indesejáveis sob o pondo de vista moral e evolutivo.

Com a imagem abalada, o país se torna um laboratório para expe- riências sinistras, das quais os brasileiros são os ratos, que vão, desde a paciência até a resistência, desde a vergonha até a indecência.

Desnorteados, os brasileiros ainda tentam se agarrar a uma tábua de salvação, conhecida como Congresso Nacional, uma instituição reconhecida pela Constituição, presente fisicamente, mas habitado por seres de uma dimensão divergente e distante, muitas vezes contaminados com o vírus da vontade e do interesse próprio e profundamente alienados que se agarram às benesses do poder.

Orquestrados por uma vontade maior, o brasileiro vai executando sua própria marcha fúnebre a caminho do calabouço e das trevas do submundo dos favores caracterizados pelos toma-lá-dá-cá, usando como moeda de troca seu próprio futuro e o futuro dos seus filhos e netos.

A vontade é um sentimento egocêntrico, se levada à risca, pode deturpar personalidades, desqualificar o caráter e definir tendências. Vontade subentende querer, posse e indiferença com o ambiente, difi- culta a interatividade que pode impossibilitar a convivência.

Vontade e poder pode ser uma mistura explosiva, perturbadora e nociva ao percurso da humanidade. O poder normalmente desperta vontades excêntricas que podem tender ao fracasso que, quando sis- têmico, vem precedido de tragédias e catástrofes, vide nossa História. “Querer não é poder”, diz um jargão popular muito utilizado em situações de crise. Muitos hão de querer, mas poder, no sentido literal de ter, envolve fatores que ultrapassam a razoabilidade ou mesmo a racionalidade de modo que, massacra sonhos e esperanças sepultando existências, provocando genocídios e desqualificando o sentido de viver. Sempre que a vontade imperar, a liberdade vai agonizar, trazendo a desarmonia vibracional que torna a atmosfera terrena cada vez mais densa e imprópria para a evolução para a qual somos vocacionados pela Criação.

O império da vontade é a imperfeição aflorada, a vitória das sombras. Paz e Luz.

Marcius Túlio é Coronel da Polícia Militar de Minas Gerais

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