Logo Jornal da Cidade - Governador Valadares
Banner
domingo, 2 novembro, 2025

O Toque, o Milagre e a Fé: A História de Amanda Kele

Leia a coluna desta semana de Vanusa Alves
Amanda durante uma sessão de quimioterapia com a touca Inglesa/Amanda hoje, depois da bênção da cura.

por Vanusa Alves

Outubro se despede, levando consigo o laço cor-de-rosa que veste o mês de esperança e coragem. Mas, antes que ele vá por completo, é impossível silenciar uma história que se destaca entre tantas outras. A história de Amanda Kele, 36 anos: confeiteira e empreendedora, esposa, mãe, filha, amiga e sobretudo, uma mulher que encarou uma das batalhas mais intensas da existência humana: vencer o câncer. Sua trajetória não é apenas sobre cura, mas sobre força, fé e a delicada arte de recomeçar quando a vida nos traz surpresas.

Você pode até pensar: “Lá vem a Vanusa contar mais uma história de vitória sobre o câncer.” E, de fato, graças a Deus, essa não é a primeira e felizmente não será a última. Mas entre tantas histórias de superação, existem também números que doem, que gritam e que insistem em nos lembrar da importância de falar sobre o tema. De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde no último dia 3, mais de 20 mil mulheres perderam a vida para o câncer de mama em 2023, com maior concentração nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste. São estatísticas que não cabem em tabelas porque atrás de cada número existe uma ausência, um nome e uma história interrompida.

Por isso, mais do que um mês de laços cor-de-rosa, é preciso transformar o tema em assunto cotidiano, em pauta de conversas, em cuidado rotineiro. É nesse cenário, entre alertas e esperanças, que surge a história de Amanda, marcada por uma linha tênue entre a alegria absoluta da maternidade e o choque da descoberta de uma doença. Uma trama onde a vida e a luta se entrelaçam no mesmo instante.

Foi em outubro de 2021, às 29 semanas da sua primeira gestação, que Amanda percebeu que algo em seu corpo pedia atenção. Durante o banho, o toque despretensioso das mãos encontrou um nódulo na mama, um pequeno ponto de incerteza em meio à alegria da maternidade que florescia.

Sem se deixar vencer pela dúvida, buscou ajuda médica o quanto antes. O primeiro exame de ultrassom confirmou a necessidade de um olhar mais especializado, e logo veio o encaminhamento para a mastologista. Na consulta, o semblante da médica traduziu a urgência antes mesmo das palavras: era preciso fazer uma biópsia imediata, seguida de uma mamografia.

Amanda seguiu cada passo como quem cumpre um roteiro desconhecido. Voltou para casa tentando manter a calma, sem imaginar o tamanho da tempestade que se aproximava. Dias depois, uma enfermeira ligou, pedindo que ela comparecesse ao retorno e que não fosse sozinha. Sem entender o motivo, pediu ao marido que a acompanhasse, acreditando que se tratava de algo relacionado à gestação. Mas, naquela consulta, o tempo parou. A médica, com voz serena e olhar compassivo, revelou o diagnóstico em meio a gestação do seu primeiro filho: um câncer de mama agressivo, com avanço rápido, já com três centímetros.

Amanda lembra que o primeiro pensamento foi de incredulidade “Eu? Com câncer? Não é possível. Sou tão nova…”, seguido de um silêncio que só foi rompido pelas lágrimas. O chão desapareceu sob seus pés. O medo da morte, até então distante, agora respirava ao seu lado.

Após o exame que confirmaria a natureza da célula cancerígena, Amanda voltou para casa em estado de choque. O corpo estava ali, mas a mente parecia vagar entre o medo e a incredulidade. Foram sete longos dias até o retorno à médica, uma eternidade para quem carrega dentro de si duas vidas e um diagnóstico que muda tudo.

Na nova consulta, a médica revelou que havia se reunido com a equipe multidisciplinar para decidir o melhor caminho. A conclusão era dura, mas necessária: seria preciso realizar uma mastectomia, a cirurgia de retirada total da mama. A decisão vinha acompanhada de riscos, tanto para Amanda quanto para o bebê, mas era o único meio de impedir que o câncer avançasse.

A cirurgia foi marcada para dali a três dias, um intervalo curto, mas suficiente para que Amanda se preparasse para o que viria. No dia do procedimento, ela e o bebê foram anestesiados, entregues à ciência e à fé. Entre tantos relatos marcantes de sua jornada, há um episódio que Amanda conta com um brilho nos olhos: segundo ela, o bebê acordou antes dela. A médica teria dito que, ainda sob o efeito da anestesia, o pequeno se mexia com energia, “pulando na barriga”, como se quisesse avisar que estava tudo bem, que continuavam juntos nessa jornada. Durante todo o processo, Amanda foi amparada por uma rede silenciosa e poderosa de amor: familiares, amigos e até desconhecidos que se uniram em oração por ela e pelo bebê. Tudo correu bem. No dia seguinte, Amanda recebeu alta. Levava consigo as marcas da cirurgia, o corpo ainda sensível, mas o coração sereno e firme. Havia vencido a primeira etapa e com ela, renascia uma nova mulher, uma nova mãe.

Amanda se recorda de ter acordado da cirurgia exausta. O corpo, já no oitavo mês de gestação, carregava o peso natural da vida que crescia e, agora, também o impacto de uma operação agressiva. Ela descreve aquele período como uma fase em que o cansaço parecia habitar cada parte de si tanto, físico, mental e emocional.

Com um tom de leve pesar, relembra que, por causa da sua condição de saúde, a gestação perdeu o brilho dos rituais que costumam anteceder a chegada de um bebê. Não houve o tempo de preparar o quartinho, escolher as roupinhas com calma, lavá-las com cheiro de cuidado, nem o prazer das pequenas expectativas que constroem o universo de uma mãe à espera, inclusive a ansiedade por amamentar seu pequeno, pois acreditava que isso não seria possível, devido a sua condição.

Em meio a esse vazio, surgiu algo que a medicina não explica, o afeto coletivo. Amigos, familiares e pessoas tocadas pela história se mobilizaram: lavaram, passaram e organizaram tudo para a chegada do bebê. E, como se o amor encontrasse caminhos próprios para se manifestar, Amanda foi surpreendida com dois chás de fralda preparados em segredo. Ganhou de tudo para ela e para o pequeno que estava a caminho. Entre lágrimas e sorrisos, entendeu que, mesmo em meio à dor, a vida ainda sabia florescer nos gestos simples de quem ama.

Já próxima ao tempo de dar à luz, Amanda seguia sob os cuidados do obstetra, que havia marcado o parto induzido. Tudo estava planejado, como mandam os protocolos médicos, mas há planos que pertencem apenas a Deus. Quarenta dias após a cirurgia, quando o corpo ainda cicatrizava e o coração tentava compreender tudo o que havia vivido, Amanda entrou em trabalho de parto natural. Sem aviso, sem hora marcada, no tempo perfeito do Criador. E foi assim que Samuel chegou ao mundo, saudável, no dia e na hora determinados por Deus. Sua chegada foi mais que um nascimento, foi um renascimento, um sopro de esperança que encheu a casa de alegria, cor e vida. Como se a vida fizesse questão de reafirmar o milagre, Amanda recebeu ainda a graça de amamentar o próprio filho. Um gesto simples, mas de uma grandeza imensurável: o corpo que havia enfrentado a dor e a perda de uma parte de si, agora nutria vida, em um ciclo perfeito de fé e superação.

Mesmo antes de concluir o período de resguardo, trinta dias após o nascimento de Samuel, Amanda iniciou uma nova etapa de sua jornada: o tratamento oncológico, através da quimioterapia. O corpo, que mal havia se recuperado da gestação e da cirurgia, agora se preparava para mais uma batalha.

Durante o tratamento, Amanda fez uso da touca inglesa, um equipamento térmico que ajuda a proteger os fios e reduzir a queda de cabelo. O método funcionou: ela não perdeu totalmente o cabelo, e faz questão de dizer o quanto esse detalhe, aparentemente pequeno, ajuda a preservar a autoestima da mulher em meio ao turbilhão da doença. Ela relata ter recebido um atendimento completo e humano no Centro Estadual de Atenção Especializada (CEAE), com acompanhamento de uma equipe multidisciplinar. Foram dias desafiadores, de altos e baixos, em que o corpo cedia ao cansaço e aos efeitos da medicação, mas a fé se mantinha de pé.

Durante toda a conversa, Amanda repetiu uma certeza que a acompanha desde o primeiro dia: “Deus cuidou de nós em cada detalhe.” Suas palavras revelam a serenidade de quem entendeu que a força não vem apenas do corpo, mas da alma. Ela reconhece que um dos maiores desafios do tratamento é o psicológico, lidar com o medo, a incerteza e a espera, mas afirma que foi justamente ali, no limite da dor, que o poder da fé a amparou em cada situação.

Amanda encerrou o tratamento em 2023. O corpo, enfim, começava a se libertar dos efeitos da quimioterapia, mas o coração ainda carregava cicatrizes invisíveis. O tratamento psicológico, ela conta, se estendeu por mais tempo e segue até hoje, como um cuidado necessário para quem enfrentou o medo de perto. Atualmente, ela toma medicação de controle diariamente e realiza o controle médico a cada seis meses, mantendo o olhar de gratidão e vigilância.

Ela relembra que, durante o tratamento, seu maior temor era a incerteza o medo da morte, a dúvida se veria o filho nascer, se estaria presente para acompanhá-lo crescer. Confessa, com a serenidade de quem aprendeu a valorizar o tempo como dádiva. “Pensei muito sobre o impacto que a minha ausência teria na vida da minha família”.

Amanda ainda não realizou a reconstrução da mama. Diz que, por enquanto, não tem certeza se fará. Hoje, vive bem com os recursos de prótese e outros métodos que a ajudam a levar uma vida plena e confiante. Ela faz questão de destacar a importância dos projetos de apoio a pacientes oncológicos, mencionando o Projeto Esperançar, que, segundo ela, “faz a diferença na vida de quem enfrenta o câncer”. Além das ações sociais, Amanda reconhece o valor inestimável do apoio da família, dos amigos e voluntários, que estiveram com ela em cada etapa, sustentando-a quando as forças faltavam.

Hoje ao olhar para trás a jornada que percorreu relembra: “Não foi fácil deixar um filho pequeno em casa e ir lutar pela vida”. Houve dias em que o corpo parecia que não iria suportar, em que a medicação pesava mais que a esperança, mas ela seguia firme, movida pela fé e pelo amor. Afinal, havia um trabalho que não tem hora de entrar nem de sair: o da maternidade.

Hoje, Amanda deixa uma mensagem que ecoa como um abraço para todas as mulheres, especialmente aquelas que estão passando pelo tratamento: “Façam os exames de rotina regularmente. Confiem em Deus. Confiem na medicina. Tenham uma alimentação saudável e não interrompam o tratamento.”

Ela reconhece que houve dias difíceis, mas também momentos de profunda felicidade, como o de segurar o filho nos braços pela primeira vez e o dia em que ouviu dos médicos que o tratamento havia terminado. “Foi um milagre”, diz. “Samuel é o meu milagre.” Com o olhar doce e a fé inabalável, Amanda encerra a conversa com uma frase que resume toda a sua jornada:

“Sou grata a Deus por poder cuidar do meu filho, participar de cada fase da vida dele e sentir o amor das pessoas que estiveram comigo. A vida é um presente e eu recebi o meu de volta.”

Vanusa Alves 📱 Contato: (33) 99981-4928 (WhatsApp) 📧 E-mail: contato.vanusaalves.comunica@gmail.com 📷 Instagram: @vanusaalvescomunica

Gostou? Compartilhe...

Leia as materias relacionadas

magnifiercrossmenu