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Parkinson em pessoas mais jovens reforça importância do diagnóstico precoce

Audiência alerta que estimativas sobre a doença ainda se concentram na terceira idade, gerando desconhecimento e subnotificação de casos
Comissão de Participação Popular ouviu especialistas e pacientes diagnosticados antes da terceira idade. Foto: Guilherme Bergamini/ALMG
quinta-feira, 4 abril, 2024

Vencer a subnotificação dos casos e compreender que o Parkinson não é uma doença exclusiva da terceira idade foram demandas apresentadas em audiência pública que apontou nesta quinta-feira (4/4/24) os desafios enfrentados por pacientes e profissionais de saúde.

“Precisamos dos números, temos o direito de saber quanto somos”, defendeu Janette de Melo Franco. Presidenta da Associação de Parkinsonianos de Minas Gerais (Asparmig), a fala de Janette resumiu o sentimento geral manifestado na reunião, realizada a pedido do deputado Doutor Jean Freire (PT) na Comissão de Participação Popular da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Consulte o resultado e assista ao vídeo completo da reunião

Para Janettte de Melo Franco e especialistas como o neurocirurgião Erich Talamoni Fonoff, pesquisador da Universidade de São Paulo, é preciso ter dados corretos e reais acerca da doença para que as políticas de saúde avancem, a começar por entender que o Parkinson não é doença de idoso.

“Várias pessoas começaram precocemente com sintomas do Parkinson e nos consultórios temos visto um aparente aumento das pessoas mais jovens com a doença.” Erich Talamoni Fonoff (Neurocirurgião e pesquisador da Universidade de São Paulo)

O neurologista chamou a atenção para a importância do diagnóstico precoce e da universalização de programas de tratamento, garantindo, por exemplo, o acesso ao medicamento próprio para o Parkinson com desconto na farmácia popular para todas as pessoas que tenham o diagnóstico, independentemente da idade. Hoje o benefício é dado para pacientes acima de 45 anos.

O especialista também alertou que as políticas públicas precisam levar em conta que o aumento da expectativa de vida da população, em média hoje em torno de 70 anos, vai gerar um aumento do número de pessoas com a doença.

O médico ainda frisou que os casos de Parkinson entre as mulheres estão aumentando, por motivo ainda ignorado. A prevalência de dois homens para cada mulher com a doença hoje está em três homens com Parkinson para cada duas mulheres. 

Anderson Luiz Coelho, presidente do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Crefito) também alertou que a vivência profissional mostra que tem havido um início precoce da doença, ressaltando a importância de um diagnóstico diferencial feito o quanto antes, já que há vantagens para o paciente quando o tratamento é iniciado cedo. 

Capacitação para o diagnóstico é defendida

Débora Maia, neurologista do Ambulatório de Distúrbios de Movimento do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), atua há 24 anos na área e endossou a necessidade de o País ter mais dados sobre a incidência do Parkinson.

Ela frisou que a doença ainda é vista como sinônimo de tremor, quando pode apresentar diversos sintomas não motores. “A causa é desconhecida, mas se sabe que envolve fatores genéticos e ambientais”, pontuou ela.

Doença neurodegenerativa, o Parkinson acomete neurônios produtores de monoaminas, dos quais o mais afetado é o da dopamina. Ela leva informações do cérebro para várias partes do corpo e é conhecida como um dos hormônios da felicidade e da motivação.

Ela ressaltou que mesmo incurável, a doença é tratável, mas demanda maior investimento em capacitação do profissional clínico para o diagnóstico, uma vez que não há testes ou exames específicos para o Parkinson.

"Às vezes uma pessoa passa anos e anos sem diagnósitco, chega buscando uma cirurgia para um ombro congelado, quando tinha era uma rigidez do Parkinson", ilustrou a médica.

A especialista ainda questionou estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) de que aproximadamente 200 mil pessoas tenham Parkinson no Brasil.

Segundo ela, um estudo sobre a doença (Estudo de Bambuí) apontou uma incidência de Parkinson de 3,2% na população acima de 65 anos de idade. No Estado, esse percentual resultaria em 80 mil casos só nessa faixa etária, tomando como base dados do IBGE de 2022.

O relato de quem está fora das estatísticas

As estatísticas sobre o Parkinson concentram-se na terceira idade, mas Janette de Melo Franco recebeu o diagnóstico aos 47 anos de idade. Hoje está com 62 anos, os 13 últimos dedicados à Asparmig.

"Com apoio, é possível viver com qualidade de vida. Já estive pior do que estou agora, mas com muito exercício e sacrifícios foi possível vencer alguns sintomas", atestou ela.

Vanessa Barbosa, presidenta do Instituto Batera Superação do Parkinson, tem 47 anos, mas teve o diagnóstico ainda mais nova, aos 43 anos. Segundo ela, sintomas como depressão, tremor e prisão de ventre começaram quando ela tinha 14 anos de idade.

Ela não escondeu que o diagnóstico trouxe tanto um luto inicial, pela dificuldade de aceitação, quanto um alívio, pelo tratamento existente e por hoje se sentir bem. "Há vida após o diagnóstico. Se for precoce, melhor. Se já há medicamento, tratar é o melhor caminho", frisou Vanessa Barbosa.

O relato de André Luís Gubolin foi no mesmo sentido. Vice-presidente do mesmo instituto ele recebeu o diagnóstico há cerca de 5 anos, quando tinha apenas 36 anos de idade. Ele contou que sintomas como locomoção irregular, dores e desânimos chegaram a ser confundidos socialmente como sinais de alguém que estaria bêbado e drogado. 

“Perdi a família, a esposa me abandonou com duas filhas, estava em ascenção profissional mas tive que abandonar tudo. A aceitação é muito difícil, mas depois do diagnóstico comecei a viver.” André Luís Gubolin (Vice-presidente do Instituto Batera Superação do Parkinson)

O deputado Doutor Jean Freire (PT) avaliou que ainda há desconhecimento da sociedade para com a realidade exposta na audiência e insensiblidade das autoridades para com as demandas dos pacientes.

Assim como todos os presentes, ele defendeu que Minas tenha um Dia Estadual de Conscientização sobre a doença e destacou, entre outros, a necessidade de o Programa de Saúde da Família (PSF) contar com profissionais capacitados para o diagnóstico precoce e tratamento da doença.

Com informações do site oficial da Assembleia Legislativa de Minas Gerais

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